terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Domingo no rio

Dia 6

Para começar perdi o café da manhã deste domingo. Resolvi dormir durante a manhã tentando enganar o tempo para ver se passava rápido.

Depois do almoço conversei por mais de hora com o maquinista e ele me deu números espantosos.

O rebocador que está empurrando o Igaratim-açú, o barco em que viajamos, consumirá de 5 a 6 mil litros de óleo no percurso. Ou em dinheiro R$ 11,4 mil. É muito?

É muito porque você, nem eu, até então, sabíamos quanto bebe o motor de um rebocador que empurra uma balsa tipo a do empresário Abraão Cândido que faz o trajeto Manaus-Cruzeiro. Chuta, aí!

Ida e volta o consumo é de pelo menos 60 mil litros de óleo diesel ou, em dinheiro, R$ 114 mil. Isso com base no litro do diesel a R$ 1,90, em Manaus.

Mas não fique com pena do empresário. O ganho com esse tipo de transporte para uma região isolada como a do Juruá é muito grande.

Agora tenha pena mesmo é de um trabalhador desse segmento, que, em média, recebe algo como R$ 600 e ainda é obrigado a ficar dias e dias fora de casa.

Em Manaus, que existe o sindicato dos empregados, o salário é um pouco melhor e chega a dobrar. Mas continua sendo uma migalha em comparação aos altos lucros do negócio.


Ia esquecendo

Nas horas em que ficamos na cidade de Eirunepé, encontrei um mineiro comprador de farinha.

Contou-me que comprava nessa cidade porque é ‘a mais barato. ' A de Cruzeiro do Sul, a famosa, ‘é mais caro’.

Pois bem. Esse mineiro, um rapaz novo, de vinte e poucos anos, disse a mim e a outras pessoas que vendia a farinha de Eirunepé em Roraima como se fosse de Cruzeiro do Sul.

-A gente põe a embalagem ‘Farinha de Cruzeiro do Sul’ e vende tudo em Roraima. Eu e o meu sócio. Lá o preço é muito bom.

E não seria...

Outra que aprendi para contar aqui dita por esse mineiro, que deixou o filho com a avó para vir tentar ganhar a vida na Amazônia.

-Eu vendia feijão. E sabe como a gente fazia para deixar o feijão bem rosado2. Pegava uma seringa e colocava óleo de cozinha. Fica uma beleza.

O mineiro faz ponto no porto de Eirunepé e, ele mesmo, negocia a farinha com os produtores que se aproximam do porto em suas canoas. Diz ele que antes tinha um representante na cidade, mas levava calote.

O lucro do negócio: 100%.

Agora quem se ferra mesmo é o morador do seringal que tem todo o trabalho para pôr a farinha na mesa do consumidor final.

Oh vida injusta!!!


O jantar

O jantar deste domingo servido no Igaratim-açú foi uma caldeirada.

Peixe é sempre muito bom.

Depois do jantar fomos ver a balsa que cruzava com o nosso barco. Era a do Abraão, que rumava para Cruzeiro lotadinha de mercadoria. Não deu para fotografar. Estava escuro.

Hoje foi mais um dia sem internet.

[Sem poder postar foto devido internete lenta...muita lenta]

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